segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Esquizofrenia se pega?


No dia 10 de janeiro saiu na "Revista Época" uma reportagem cujo título era "6 doenças que você nunca soube que poderia pegar". Eu, muito curiosa, li a reportagem e me surpreendi ao me deparar com a informação de que o parasita Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose, pode ser responsável também pela esquizofrenia! Mais curiosa ainda, fui procurar no google acadêmico pesquisas publicadas sobre o assunto. Agora compartilho com vocês meus achados nessa busca.

Hoje fala-se de causas multifatoriais para inúmeras doenças que não tem uma única etiologia bem definida. Consideramos o ambiente, em combinação com a genética, além das condições físicas e emocionais que influenciam no aparecimento e/ou manutenção de uma série de patologias. Certo?

Bom, isso é válido, mas há algum tempo os cientistas vêm estudando a influência de vírus, bactérias e outros microorganismos na etiologia de doenças que até o momento não possuem uma causa bem estabelecida. Uma das doenças presente na lista destas pesquisas é a esquizofrenia.

Diversas pesquisas demonstram que o Toxoplasma gondii é capaz de causar alterações neurológicas em seus hospedeiros (porcos, ovelhas, ratos, bovinos, macacos), como incoordenação, tremores, convulsões e mudanças comportamentais.

Nos seres humanos, sabe-se que a toxoplasmose é responsável por abortos e, no caso de toxoplasmose congênita, pode causar hidrocefalia ou microcefalia, calcificações intracranianas, surdez, convulsões, paralisia cerebral, danos à retina e retardo mental. Em casos de toxoplasmose aguda em adultos, podem ocorrer também delírios e alucinações.

Segundo o grupo de pesquisadores que procuram incluir também a esquizofrenia na lista de possíveis consequências da infecção pelo Toxoplasma gondii, estudos mostram que pacientes com esquizofrenia possuem uma quantidade maior de anticorpos para o Toxoplasma do que a população geral. É isso que indica o artigo "Toxoplasma gondii and schizophrenia", de Torrey e Yolken, publicado em 2003 no Medscape, que reuniu pesquisas realizadas desde 1953.

Estes estudos também têm demonstrado que animais contaminados com Toxoplasma gondii apresentam alterações nos níveis de dopamina, norepinefrina e outros neurotransmissores, similares às existentes em pacientes esquizofrênicos.

Outra informação interessante é que, em estudos em laboratório com cultura de células, medicamentos antipsicóticos, usados no tratamento da esquizofrenia, inibiram a reprodução do Toxoplasma gondii. Este fato levanta a hipótese de que alguns dos sintomas da esquizofrenia poderiam ser causados pelo parasita e, ao controlar seu crescimento, os sintomas produzidos por ele também seriam controlados.

O que os pesquisadores apontam é que considerando os sintomas causados pela infecção pelo Toxoplasma gondii em animais e seres humanos, comparando-os aos sintomas da esquizofrenia e ao alto índice de pacientes esquizofrênicos infectados por este protozoário, há indícios suficientes que justificam estudos mais apurados para verificar a real correlação destes fatores.

No momento não há resultados definitivos, mas apenas estudos exploratórios que procuram compreender a influência do Toxoplasma gondii no funcionamento do organismo humano, considerando as variações individuais (genéticas, condições imunológicas no momento da infecção, etc) e ambientais.  No entanto, nós, da área da saúde, devemos ficar atentos a essas novas perspectivas com relação à esquizofrenia e às novas possibilidades de tratamento que podem surgir a partir destes estudos.


Saudações psis.

2 comentários:

Gisela Vallin disse...

É de fato surpreendente essa nova possibilidade apontada pelos estudos cinetíficos. Entretanto, como psicóloga e estudiosa da integração fiso-psíquica, considero que seria muito reducionista e atrelado ao modelo "biomédico" dizermos que a esquizofrenia é meramente causada por uma bactéria. Não podemos nos esquecer que, sendo as causas multifatoriais, ao meu ver, toda doença tem uma estreita relação com a psique.Segundo Ramos: " existe uma tendência a considerar todas as doenças como psicossomáticas, na medida em que elas envolvem a inter-relação contínua entre corpo e mente na sua origem, em seu desenvolvimento e sua cura." ( Denize Ramos, p.47, " A Psique do corpo)

Simone disse...

Gisela, concordo totalmente com você!
O fato de uma bactéria, vírus ou qualquer outro parasita estar envolvido na causa de uma doença não exclui o fator "psi" na etiologia, manutenção e desenvolvimento de uma doença. Apenas considero o parasita como mais um fator que deve ser considerado nessa integração e que pode trazer novas perspectivas de tratamento (medicamentos mais eficazes para o aspecto "bio").
O livro da Denize Ramos que você citou é indispensável para quem tem uma vião psicossomática integradora.

Obrigada pelo comentário e seja bem vinda!