segunda-feira, 5 de abril de 2010

O papel do toque no desenvolvimento humano

Peço desculpas pelo período sem postar nada, mas outras situações urgentes tomaram meu tempo... Enfim, estou de volta ao 'Psi quê?', com uma amplificação da matéria publicada no caderno Equilíbrio e Saúde do jornal Folha Online (da Folha de São Paulo), no dia 03 de março de 2010, intitulada "Pesquisa pode provar que toque está relacionado ao desempenho" (clique aqui e leia a matéria completa).

A matéria relata uma pesquisa de Kraus e seus co-autores, Cassy Huang e Keltner, que procura correlacionar o desempenho de times de basquete com o número de vezes e o tempo que os jogadores se tocavam durante a partida. Tudo indica que os cumprimentos entre os jogadores tendem a melhorar seu desempenho na quadra, apesar dos resultados até o momento não serem conclusivos.

Não é de hoje que o toque é estudado pelo mundo afora e que os pesquisadores têm constatado que a linguagem corporal é universal, sendo interpretada de modo muito similar por pessoas de diversos lugares do mundo. Além disso, cada vez mais, surgem pesquisas mostrando o papel do toque, da massagem, a relação do toque com as emoções...

O Touch Research Institute, de Miami, é um bom exemplo de centro de pesquisa sério sobre o efeito terapêutico do toque. Seus estudos apontam que o toque facilita o ganho de peso em bebês prematuros, diminui sintomas depressivos, dor, ansiedade e hormônios do estresse, melhora a atenção e a imunidade... A Universidade da Califórnia e a Universidade DePauw, em Indiana, também possuem um grupo de pesquisadores interessados nos efeitos do toque.

A notícia de que o contato, o toque propriamente dito, é fundamental para o desenvolvimento de todos os animais não é novidade (a Ayurveda, texto milenar indiano, já falava da importância das massagens). A estimulação corporal dos mamíferos começa ainda no ventre da mãe, com as contrações uterinas e o líquido amniótico que envolve o feto. O nascimento, a passagem pelo canal do parto, e as lambidas da mãe, também são estímulos. O tato é o primeiro sentido que se desenvolve e o último que perdemos, é através do tato que o bebê explora o mundo e é a pele que nos dá o limite do eu e não-eu. Além disso, a pele e o sistema nervoso possuem uma relação mais próxima do que imaginamos: no desenvolvimento, ambos originam-se da ectoderme. Nesse sentido, vale a pena ler o livro "Tocar: o significado humano da pele", de Ashley Montagu.

Alguns estudos (estudos sobre apego de J. Bowlby e sobre hospitalismo de R. A. Spitz são bons exemplos...) demonstram que bebês que são pouco tocados, acabam desenvolvendo sintomas neuro-psicológicos, dentre os quais o "hospitalismo", e podem chegar a morrer.

Pesquisas recentes, feitas conforme especificado pelas leis da Ciência para não restar dúvidas quanto a sua validade, mostram aquilo que os "médicos de família" de anos atrás já sabiam e praticavam... Por algum motivo, este conhecimento se perdeu no meio dos avanços da Ciência Moderna e parece que retrocedemos um tanto para re-descobrir a importância de considerar o ser humano como um indivíduo e não como a somatória de suas partes, de re-unir mente e corpo, psico e físico.

Gosto da idéia de que corpo e mente são inseparáveis e que o que acontece em um, toca o outro também. Alguns fenômenos são mais psíquicos ou mais físicos, mas sempre acontecem nas duas camadas. Isso explica porque uma massagem pode alterar o funcionamento “psi”, além de fazer bem para o corpo (tal como as pesquisas do Touch Research Institute demostraram).

É por este motivo que os toques sutis e as massagens podem ser utilizadas no contexto psicoterápico. Aliás, os toques com intencionalidade deveriam fazer parte da nossa rotina de auto-cuidado, levando em conta os benefícios que o toque proporciona: é uma forma de prevenção e promoção de saúde eficiente, barata e sem contra-indicações.