Peço desculpas pelo período sem postar nada, mas outras situações urgentes tomaram meu tempo... Enfim, estou de volta ao 'Psi quê?', com uma amplificação da matéria publicada no caderno Equilíbrio e Saúde do jornal Folha Online (da Folha de São Paulo), no dia 03 de março de 2010, intitulada "Pesquisa pode provar que toque está relacionado ao desempenho" (clique aqui e leia a matéria completa).
A matéria relata uma pesquisa de Kraus e seus co-autores, Cassy Huang e Keltner, que procura correlacionar o desempenho de times de basquete com o número de vezes e o tempo que os jogadores se tocavam durante a partida. Tudo indica que os cumprimentos entre os jogadores tendem a melhorar seu desempenho na quadra, apesar dos resultados até o momento não serem conclusivos.
Não é de hoje que o toque é estudado pelo mundo afora e que os pesquisadores têm constatado que a linguagem corporal é universal, sendo interpretada de modo muito similar por pessoas de diversos lugares do mundo. Além disso, cada vez mais, surgem pesquisas mostrando o papel do toque, da massagem, a relação do toque com as emoções...
O Touch Research Institute, de Miami, é um bom exemplo de centro de pesquisa sério sobre o efeito terapêutico do toque. Seus estudos apontam que o toque facilita o ganho de peso em bebês prematuros, diminui sintomas depressivos, dor, ansiedade e hormônios do estresse, melhora a atenção e a imunidade... A Universidade da Califórnia e a Universidade DePauw, em Indiana, também possuem um grupo de pesquisadores interessados nos efeitos do toque.
A notícia de que o contato, o toque propriamente dito, é fundamental para o desenvolvimento de todos os animais não é novidade (a Ayurveda, texto milenar indiano, já falava da importância das massagens). A estimulação corporal dos mamíferos começa ainda no ventre da mãe, com as contrações uterinas e o líquido amniótico que envolve o feto. O nascimento, a passagem pelo canal do parto, e as lambidas da mãe, também são estímulos. O tato é o primeiro sentido que se desenvolve e o último que perdemos, é através do tato que o bebê explora o mundo e é a pele que nos dá o limite do eu e não-eu. Além disso, a pele e o sistema nervoso possuem uma relação mais próxima do que imaginamos: no desenvolvimento, ambos originam-se da ectoderme. Nesse sentido, vale a pena ler o livro "Tocar: o significado humano da pele", de Ashley Montagu.
Alguns estudos (estudos sobre apego de J. Bowlby e sobre hospitalismo de R. A. Spitz são bons exemplos...) demonstram que bebês que são pouco tocados, acabam desenvolvendo sintomas neuro-psicológicos, dentre os quais o "hospitalismo", e podem chegar a morrer.
Pesquisas recentes, feitas conforme especificado pelas leis da Ciência para não restar dúvidas quanto a sua validade, mostram aquilo que os "médicos de família" de anos atrás já sabiam e praticavam... Por algum motivo, este conhecimento se perdeu no meio dos avanços da Ciência Moderna e parece que retrocedemos um tanto para re-descobrir a importância de considerar o ser humano como um indivíduo e não como a somatória de suas partes, de re-unir mente e corpo, psico e físico.
Gosto da idéia de que corpo e mente são inseparáveis e que o que acontece em um, toca o outro também. Alguns fenômenos são mais psíquicos ou mais físicos, mas sempre acontecem nas duas camadas. Isso explica porque uma massagem pode alterar o funcionamento “psi”, além de fazer bem para o corpo (tal como as pesquisas do Touch Research Institute demostraram).
É por este motivo que os toques sutis e as massagens podem ser utilizadas no contexto psicoterápico. Aliás, os toques com intencionalidade deveriam fazer parte da nossa rotina de auto-cuidado, levando em conta os benefícios que o toque proporciona: é uma forma de prevenção e promoção de saúde eficiente, barata e sem contra-indicações.
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